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Sobre Nós

Eu me chamo João Pedro Sallay e sou curador e idealizador da página The Watch Guy Brazil. A página, que nasceu no Instagram é o resultado de um trabalho feito com muito carinho e experiência, visando trazer de volta à vida relógios que muitas vezes são ignorados pelo grande público. Hoje estamos motivados a não só vender peças, mas sim contar histórias em volta dos modelos icônicos que passam por lá, curiosidades sobre a relojoaria e dicas de utilização e conservação das peças.

 

O primeiro contato que eu tive com um relógio vintage, foi com um Certina de ouro amarelo 14k, que é uma herança de família. Ele pertenceu ao meu bisavô, Húngaro-Alemão, adido da embaixada da Alemanha em Berna na Suíça, durante a segunda guerra mundial. Esse relógio foi o seu “daily watch” durante muitos anos, mesmo após sua mudança para Angola nos anos 1950, onde em algumas fotos de família podemos vê-lo usando o relógio. Após sua morte em 1987, esse relógio foi recebido pelo meu tio avô, que guardou em alguma gaveta durante alguns anos.​

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Passado o tempo, esse relógio foi entregue pelas mãos do meu tio avô ao meu pai, que também o guardou durante muitos anos em alguma gaveta. Durante a minha juventude toda eu pude ver o relógio na gaveta do meu pai, manusear, olhar e admirar o relógio, mas nunca o tirando do perímetro do quarto em que ficava guardado. Anos se passaram, eu comecei a me aventurar no mundo da relojoaria clássica, comprei e restaurei muitos Omega vintage, até que um dia, meu pai se sentiu confiante o suficiente de me dar o relógio que fora de seu avô. Confesso que a excitação pela entrega foi enorme, e não consegui disfarçar a minha felicidade.

Recebi o relógio em fevereiro de 2024, o relógio antigo que eu passei a minha infância inteira “usando” e admirando se tornou meu. Ao receber o relógio, a excitação se transformou em ansiedade para restaurar a peça e finalmente poder usar, então a primeira promessa que eu fiz ao meu pai, era que iria deixar o relógio impecável novamente. Naturalmente no momento que recebi o relógio, a minha primeira ação foi dar corda, mas já totalmente sem esperança de que ele iria funcionar, vide o negligenciamento de décadas que a peça teve, para minha surpresa, o relógio funcionou. O veterano de guerra de 80 anos estava firme e forte, contando os segundos como nunca!

 

Nesse momento inicial, não me aventurei mais, fiquei admirando o relógio no meu pulso, ele estava com uma pulseira nato de perlon que estava se desmanchando de tão velha, a caixa de ouro amarelo tinha uma patina muito bonita, a cor arroxeada se dava por conta da oxidação do metal. O mostrador por outro lado, está com uma patina tropical que gosto de acreditar que se deu por conta do uso no sol escaldante da África equatorial, lugar que meu bisavô usou o relógio com muito gosto. Esse relógio é um verdadeiro “Tool Watch” foi usado como tal até a alma. Após esse deleite inicial, eu guardei o relógio até o meu retorno para o Brasil.

 

Como se tratava de uma herança familiar, eu quis ter o gosto de higienizar o relógio, antes de entregar ele a um especialista para a restauração propriamente dita. Nesse momento, a curiosidade de estudar sobre o relógio foi gigantesca, então assim o fiz, passei uma tarde inteira pesquisando informações sobre o relógio, a fim de entender sua origem e pedigree. Apesar de ter Certina gravado no mostrador, ao abrir a caixa, tanto a caixa como o calibre eram assinados pela Grana. O primeiro ponto de interrogação surgiu na minha cabeça, como isso é possível? Logo imaginei se tratar de um “Frank Watch”, abreviação para Frankenstein, uma mistura de partes de diversos relógios.

 

Para a minha surpresa, e alívio, não era esse o caso. A Grana era a Certina, e a Certina era a Grana, sim eram a mesma empresa! Fundada em 1888 em Grenchen, por Adolf e Alfred Kurth Frères, a empresa inicialmente, com três funcionários, era localizada em um quarto na casa dos irmãos, onde eles fabricavam movimentos e partes sobressalentes para relógios de bolso. Foi em 1906 quando eles fabricaram o primeiro relógio inteiro assinados por eles, com o nome da marca sendo Grana, esse nome é a abreviação para “Granacus”, o nome da sua cidade de origem em Latim.

 

Não se sabe ao certo quando o nome Grana desapareceu por completo, mas desde os anos 1920, quando os filhos de Alfred, Erwin e Hand, vieram trabalhar no negócio, que introduziram o nome Certina em 1924. Apesar disso, o nome Grana se manteve muito forte até o início da segunda guerra mundial, quando algumas forças militares encomendaram modelos militares para uso, como o famoso “Dirty Dozen” encomendado pelo exército Britânico sobre o modelo “WWW” (abreviação para Watch. Wrist. Waterproof), relógio esse que hoje é considerado icônico e muito raro, por sua precisão, maneabilidade e design único.

 

Pelo modelo do meu relógio e período que o meu bisavô recebeu esse relógio, pude datar ele para o final dos anos 1930 e início dos anos 1940, o que justificaria essa junção de calibre ainda assinado Grana, e mostrador assinado Certina. Oficialmente, o nome Certina foi introduzido ao mercado em 1938, chancelando de uma vez por todas a autenticidade da peça, mesmo com essa confusão de nomes diferentes no mesmo relógio. Esse e o ponto crucial da compra do primeiro vintage, pesquisa! Sim, não bastar olhar e achar bonito, se você não pesquisar e entender o que você está comprando, provavelmente vai cair em uma cilada.

 

Ao longo do ano de 2023, quando deixei de ser apenas um “colecionador” de relógios, eu realizei a curadoria de diversos relógios vintage com o intuito de restaurá-los e vendê-los, assim o fiz. Na época eu usava uma plataforma de ecommerce muito famosa, aquela amarela... ainda não tinha despertado em mim a vontade de expor mais a minha curadoria, visto que a frequência de relógios que eu trabalhava era bem menor do que hoje em dia. A minha maior motivação, foi quando o relógio do meu bisavô ficou pronto, surgindo ali a vontade de mostrar o que eu fazia e que era possível.

 

Como faz parte da idealização da Watch Guy Brazil, escolhi compartilhar essa minha história com um relógio que era uma herança familiar, apesar de antes de recebe-lo eu já tinha outros relógios vintage, esse foi o que verdadeiramente me marcou, porque foi o relógio que desde pequeno acompanhei de perto, sabia toda a sua trajetória e história, então podes se dizer que foi o meu primeiro contato com a relojoaria, um velho Certina de ouro, cheio de história e significado, não só para mim e minha família, mas também para a história da relojoaria Suíça, já que a história da marca de certa forma se cruzou com a história mundial, durante a segunda grande guerra.

 

Por isso, adquirir um relógio vintage é embarcar em uma jornada de estilo, história e exclusividade. Cada peça carrega uma narrativa única, marcada pelo tempo e pela precisão da relojoaria clássica. Escolher o primeiro relógio vintage pode ser um desafio, mas este guia ajudará a tomar a decisão certa, destacando aspectos essenciais para uma escolha consciente e acertada, buscando atender a todos os orçamentos e gostos. Relógio é paixão, é tradição, é elegância e é sim um item essencial.

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